segunda-feira, 12 de julho de 2010

Veludo amargo

É cobardia não me amares, não te entregares nos meus braços incondicionalmente como já outrora o fizeste. Mas como, como? Esse outrora foi há tanto tempo, demasiado tempo para que o meu pobre coração insista em recordar uma memória tardia e ténue de um amor eterno. Eterno sim, mas não eterno o suficiente para não ter que “morrer” para só depois nos apercebermos da sua eternidade.
Não me digas que me amas, não, não me digas que faço intrinsecamente parte de ti, da tua alma e da tua história, porque não quero ser historia, não mais uma história, não mais um dos teus intrínsecos e alteráveis amores; eu quero ser o hoje, o agora e o já. E quero ser historia sim, mas uma daquelas actuais em que falamos do nosso amor mas já com sementes plantadas no mundo sentados no nosso colo. Não não digas que sou parte da tua alma vadia e sedenta de humanidade. Caramba e eu era tanto contigo e sou tão pouco sem ti... Ensinaste-me que eu tinha alma e que ela se manifestava por mim, fizeste-te amigo dela e abraçaste-me em pensamentos que me faziam arrepiar. Sinto tanto a tua falta… tanta que chega a doer fisicamente a tua ausência, como te amo, Deus, como eu te amo… que amor tão solidário este que fica feliz com o teu namoro, com o teu casamento, com os teus filhos que ainda não nascidos pintas em telas suspensas de sonhos de verão. Como eu te amo.Sabes há quanto tempo não durmo? 664 Dias… 664 dias de dor, choro, arrependimento, mágoa e desespero… 664 dias de amargura e perguntas infantis de uma menina a quem fizeste mulher. 664 dias de vazio falsamente preenchidos por declarações falsas de quem não tem qualquer intenção de amar-me..664 dias de amor e fugas constantes a realidade, só e apenas porque me ensinaste que era mais simples comunicar contigo num plano ascendente e superior. Mas foste-te, escorregaste-me pelos dedos encharcados de lágrimas e já nem aí te encontro. Tenho saudades de ti, mas mais saudades ainda de quem eu era contigo. Quem sabe um dia, de novo, no amanha e noutro qualquer plano transcendente a minha existência, venhas de novo a voar para mim, brilhando prateado com asas negras de amargo veludo e com a lua como pano de fundo.

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